sábado, 26 de fevereiro de 2011

O Carnaval do Sistema escravocrata machista com os dias contados no Grão Pará


fotografia de Olaf Martens.
O dote é uma antiga prática herdada dos portugueses, fatos de insensatez, machismo e barbárie do colonialismo no Brasil, que só merece ser relembrado para ser aniquilado e combatido de uma vez por todas.
Esta prática assegurou, dentre outras coisas, a existência do sistema econômico escravocrata de produção de riquezas e multiplicação da miséria brasileira que usava a mulher como mercadoria. Na negociação era a própria filha do barão que era vendida a outro filho de barão em união matrimonial selada pela igreja católica para unir riquezas e multiplicar carências afetivas, violência conjugal, e abandono da coisa amor.
As moças que não tinham riquezas financeiras, não tinham dote, assim não teriam chance de casar-se com um “partidão” e ascender economicamente, e corriam o risco de não casar mesmo que o pretendente fosse pobre. Ficar solteira significava não ter respeito diante da sociedade, trabalhar no campo, no meretrício, viver na mendicância, no mercado informal, ser escravizada de alguma forma e ser ridicularizada e submetida ao título de “titia” ou outras injúrias e calúnias de origem promíscua.
Pensando em promover-se politicamente no Grão Pará através de ações sociais, um grupo de aristocratas criou um concurso de beleza que se chamava “Um dote para uma moça pobre”, divulgado no jornal “O paraense” (Belém, abril de 1892) este concurso consistia em doar à mais bela felizarda um dote de quantia de dinheiro e enxoval de casamento junto à merecendência da companhia de algum filho de dono-da-terra que estivesse dando sopa por aí (de acordo com aspirações políticas ou coisa que valha).
O corpo de uma mulher até se vende, mas o coração resiste e não se entrega jamais.
Parece que, não durou muito tempo, pois a doce luta pelo poder, dizem as más línguas[1] que no meio da disputa pelo poder, denunciaram em escândalo high society que algumas moças vencedoras do concurso já eram filhas do dinheiro, da borracha e do glamour, por medo da classe de misturar-se ao sangue tapuio, a farsa foi desfeita em nome duma eugenia mal lapidada.
Muitos anos depois, em 1947 alguém[2] resolveu ter a “grande idéia” de resgatar estes valores, para não repetir o vexame do golpe burguês, criou o Rainha das Rainhas do Carnaval, estreito e restrito à elite, com toda a pompa das fantasias luxuosas e, lógico, de gosto estético alienígena e escalafobético. Na década de 60, a nova grande idéia foi da família Maiorana, e assim a família paraense vem reproduzindo esta prática imoral de exploração do corpo feminino, cada vez mais carregando os pesos, da sociedade e das fantasias, cada vez mais se equilibrando no sapatos de saltos altíssimos com as coreografias mais absurdas a mulher paraense vem aprendendo a admirar um modelo artificial de folia , politicamente falido e esteticamente risível, nossa maior expressão de mentalidade colonialista.
Enquanto isso as escolas de samba que nascem e se desenvolvem na periferia, da criatividade franca dos barracões, das coletas de tostões e rifas dos trabalhadores e trabalhadoras assalariados, passam por sucessivas humilhações pra sair na avenida com algum brilho e alegria, o valor da subvenção não chega à metade do valor de uma fantasia de candidata à rainha.
O Rainha das Rainhas do carnaval é, portanto, o lado mais grotesco, cafona e medíocre da pior farsa elitista do estado do Pará, e tem mais títulos também, como o de maior afronta à dignidade da mulher paraense.
Precisamos começar a refletir seriamente sobre este tema, para que as mulheres superem de uma vez por todas este um molde escravocrata e subserviente desse espartilho que nos aperta, fere e sufoca nossos desejos de liberdade, respeito, expressão e de folia.    
Texto de Isabela do Lago.



[1] CODEM – Centro de Documentação e Informação: Relatório do Intendente de Belém, 1912 a 1916.
[2] Tendo sua primeira edição em 1947, criado pela família Maranhão então proprietária do jornal "Folha do Norte", na época o mais tradicional do Pará. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Rainha_das_Rainhas_do_Carnaval_de_Bel%C3%A9m

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Violência, Gênero e Mídia


A sociedade de modo geral e a maioria das mulheres reconhecem apenas a violência física contra as mulheres. A violência simbólica muitas vezes passa despercebida. No entanto, ela está presente, e de forma simbólica, cotidianamente na mídia e na imprensa nacional. E para contribuir para que  percebam, a União Brasileira de Mulheres (UBM) faz a primeira reunião com as coordenadoras regionais do projeto “Fortalecer o Protagonismo no Enfrentamento Contra as Mulheres na Democratização da Mídia”.
Para trabalhar a temática com as mulheres, a UBM objetiva capacitá-las com formação teórica. Nos seminários, serão apresentados artigos e materiais sobre gênero e violência, mídia e estereótipos da mulher e violências simbólicas. “O nosso principal objetivo é fazer com que as mulheres estejam preparadas para fazer o controle social da mídia, tomar conhecimento e buscar os seus direitos. Sabemos que a linguagem simbólica dos meios de comunicação fica muito marcada. Se conseguirmos fazer uma campanha em que essas mulheres saiam mais emancipadas ou pelo menos que se libertem desse processo todo, teremos alçando a nossa meta”, declara.

Para Dóris, a relação gênero x mídia é muito problemática de ser tratada porque envolve um plano simbólico, que muitas vezes não percebido pela maioria das mulheres. Ela explica que na mídia, invariavelmente, a mulher é tratada como objeto ou como aquela pessoa que para ser feliz tem de estar dentro de um padrão de beleza. “Na mídia, sobretudo na televisão, a mulher perfeita é aquela que corresponde a um determinado padrão: um padrão de beleza, de cor, de classe social. Aquelas que não estão perto desse padrão estão cada vez mais infelizes. Quanto mais distante do padrão sentem-se mais infelizes e inferiorizadas. Temos de derrubar esses estereótipos”.

Segundo Dóris, é o reforço das imagens desses estereótipos que faz com que a violência simbólica seja praticada, pois os padrões vigentes e as repetições do “lugar” onde a mulher “tem de ficar” gera conflitos quando ela rompe com a estrutura machista. “A mulher vai se submetendo inconscientemente a esses padrões impostos pela mídia. Para romper com isso, o processo de libertação é fundamental. Quando a mulher tem uma atitude diferenciada, ela é vista  como rebelde, desobediente. E, muitas vezes pelos filhos e pela família,  elas têm de se manter obedientes. No entanto, precisam entender que o elemento motivador da violência doméstica não é o mesmo da violência urbana, mas que é fundamentado numa relação de poder estabelecida do homem sobre a mulher. Têm muitos homens que cometem agressão, que são bons pais, bons funcionários, bons colegas de trabalho, mas que vêem a mulher como propriedade deles. Portanto, quando ela não faz o que ele quer, têm reações de violência. E é isso que temos de mudar, é essa percepção que as mulheres também têm, que deve ser desfeita para a própria segurança delas”, finaliza.

Novo espaço

Nova fala da mulher de Santa Luzia do Pará.
em breve.